sexta-feira, 27 de junho de 2008

Corpo de delito

Meu novo hobby no hotel é contar hematomas. Ontem não estavam ai. Mas hoje....
Acordei algumas vezes com a garganta seca. Ao tentar dormir não deixava de pensar no problema do bagageiro. Virava de um lado para outro para esquecer o problema, pois ali não conseguiria resolver nada. 6:45 estava acordado, antes mesmo do despertador.

Fui tomar café as 7:15 e perguntei à gerente qual o horário de abertura da loja. 8:30 ou 9:30. Sai com a bike as 8:20 para pegar a loja abrindo. Chegando lá descobri que iria ter uma hora para pensar na vida.


Já havia traçado um plano B, C, D e E caso não conseguisse resolver o problema.Quando a loja abriu perguntei primeiro se tinham um `alargador´ de canote. A resposta foi sim, o que me animou. Pronto, problema resolvido.

Em dois minutos voltou o vendedor dizendo que para aquele diametro não havia. Plano B em ação. Comprar um outro bagageiro que servisse naquele canote. Os dois modelos que havia na loja não serviam. Um era igual aoo meu, e o outro, faltava 1 mm para fechar.

Plano C: você tem suporte para alforges no garfo da bicicleta? Sim, tenho esses, respondeu o vendedor. Alivio da minha parte. Ele entrou na oficina e voltou dizendo que não serviam para a montain bike.

Plano D: eu iria fazer uma escolha criteriosa do que levar e arranjar tudo dentro da minha mochila de costas. O que não coubesse voltaria ao Brasil ou acabaria sendo deixado por ali.

Voltei para pegar o canote da bicicleta roubada, que havia deixado ao lado da prateleira de bagageiros quando vi um ouro modelo de bagageiro meio escondido debaixo de outros. Peguei-o e levei até a bicicleta. Torci para encaixar, e desta vez, ele serviu. Ufa, mas eu não estava totalmente animado, Os alforges que tenho poderiam não encaixar na bike. Combinei com o vendedor que se não service eu o devolveria.

De volta ao hotel comecei a fazer os encaixes. Com algum esforço e ajustes consegui fazer os alfoges laterais encaixarem. A maleta de cima tive de amarrar com uma corda elastica que havia trazido.

Bem, daquela forma eu poderia continuar. Minha decisão quanto à viagem foi a seguinte: Não posso pedalar ou fazer esforço por mais dois dias. Isso é fato. Eu tenho que me encontrar com amigos em Viena no dia 3. O melhor é fazer duas cidades de trem e me manter dentro do cronograma.

As 11:44 embarquei num trem para Donauwort. A viagem levou 1H 10m. Cheguei na estação e fui pedalando bem de leve até o hotel que ficava uns 2 Km de lá.

O resto do dia fiquei descansando. Quanto mais me poupar agora, mais rápido voto à ativa.

Dia 13 - Corpo de delito

Meu novo hobby no hotel é contar hematomas. Ontem não estavam ai. Mas hoje....



Tô com cara de guaxinin.

Dia 12 - Ulm - Parte II

Dia 12 - Ulm


Catedral de Ulm 164m de altura
Fui dormir bem tarde. A alemanha estava em clima de festa pelo jogo da Euro Copa contra a Turquia. Os noticiários mostravam o tempo inteiro flashes de locais onde havia concentração de torcedores. Existia uma preocupação de possíveis conflitos em algumas cidades onde existem grandes colonias turcas na Alemanha.

Felizmente nada de grave aconteceu. Mas a vitória da alemanha no último minuto fez com que a cidade ficasse acessa até muito tarde. Torcedores passavam pela rua gritando Final Final Estamos na Final.

Acordei varias vezes com a garganta ressecada pois a respiração pelo nariz estava parcialmente obstruida. Aquando acordei fiquei contente pois não vi manchas de sangue no travesseiro. Tomei café e peguei um taxi até o Michelsberg HNO Klinik. Lá chegando, existe um primeiro setor de cadastramento e triagem onde fazem o seu cadastro e abrem um ficha. Demorei uns 10 minutos para ser atendido e fiquei uns 15 explicando o que havia sido feito no dia anterior.

Depois de preparar a ficha ela me disse para aguardar que seria chamado pelo nome. A sala de espera era circular e haviam cinco salas onde os médicos faziam o atendimento. Demorei uns 40 minutos para ser chamado. A médica, também residente, já devia ter lido a ficha do médico anterior e me pediu para que sentasse na cadeira. Foi cordialmente seca no modo de me tratar.

Olhou para mim fixamente e disse que parecia estar tudo no lugar. Tentou limpar a secreção interna com um aparelho, que parecia ser um sugador, mas ele não funcionou. Ela pegou uma pinça, pediu para segurar uma bandeja e fez uma limpeza do septo.

Visualmente olhou que estava tudo no lugar e que não seria necessário fazer nenhum procedimento. Não havia hematoma do septo.. Ela me passou duas bisnagas de uma pomada com a finalidade de limpar a secreção e me liberou. Disse que eu teria de pagar em dinheiro e depois ser reembolado pelo seguro. Disse que tudo bem para não complicar a situação. Ela pediu para que eu esperasse na sala novamente. Me chamariam para fazer o acerto. Daí uns 5 minutos ela me chamou novamente e com outro médico na sala disse que ele gostaria de dar uma olhada no meu nariz.

Abriu as narinas com o alargador, apertou por fora e disse que estava tudo bem. Que não achava necessário colocar uma tala externa. Disse apenas para que eu evitasse qualquer novo trauma no local.

Falaram que eu deveria ficar pelo menos dois dias sem nenhuma atividade física intensa e que não deveria pedalar de forma alguma nesse periodo.

Saí do hospital e peguei a mesma linha de ônibus do dia anterior. Já estava chamando Ulm de tu. Ah, antes de sair do hotel pedi para a gerente avisar ao escritório de turismo que eu não poderia encontrar a guia que me esperaria as 9:40 na praça Munster. Eu ainda tinha um almoço com o diretor do escritório ao meio dia. Avisei que poderia não chegar dependendo do que acontecesse no hospital.

As 11:45 eu estava no escritório, mas o Sr Homburg havia tido um contratempo e não poderia almoçar comigo. A guia Gabriela me esperava para fazer um rápido city tour, pois ela tinha um compromisso dali a meia hora.

Voltei para o hotel por volta das 13:30 depois de comer uma Bratwurst mit brot ou um salcichão no pãozinho. Adoro esse lanche alemão, principalmente com a mostarda daqui.

Fui para o quarto e resolvi dar uma arrumada nos alforges. A guia tinha me dito que as 16 horas outro guia faria um tour mais longo comigo. Lá pelas 3 pedi para a gerente abrir a garagem onde havia guardado a bicicleta. Queria pegar a garrafa d´água que estava no quadro da bike.

Descemos até o térreo, caminhamos até a garagem que ficava no fundo do corredor. Ela destrancou a porta e a ergueu. Era uma porta basculante. A garagem era do tamanho para comportrar um carro grande, tinha uns 2,5 por 5 metros. Olhei para o fundo da garagem onde havia deixado a Scottinha.

Tinha um enorme vazio. Virei o rosto e olhei para a gerente. Ela olhou para mim e voltou a olhar para o fundo da garagem. Acho que repetimos a cena umas duas ou três vezes sem falar nada. Eu não queria acreditar no que NÂO estava vendo. Perguntei: A sernhora colocou a bicicleta em outro lugar?

Nein – disse ela, depois que você colocou-a ai não mexi mais na garagem. Eu disse a ela, mas haviam outras bicicletas ontem quando cheguei. Agora só tem uma ali.

- Aquela é minha, as outras eram de outros hóspedes.

Mas como eles pegaram as bicicletas? A senhora não veio aqui?

Não disse ela, com olhar atônito, dei a chave, eles pegaram as bicicletas e devolveram a chave na recepção.

Bem, ali estava uma possibilidade concreta de como passaram a mão na Scottinha. Ou alguns dos hóspedes a levou ou deixaram a porta aberta e alguém a viu e levou. Ela estava sem o selim e a trava do canote do selim. Ainda estava com a corrente predendo a roda traseira no quadro.

Quem a levou deve ter levantado a parte traseira e ido empurrando a tadinha.

Bem, voltei á realidade e olhando para a gerente perguntei o que faríamos, se deveríamos fazer uma queixa na polícia, ou qual seria o procedimento num caso desse.

Ela disse que não adiantava nada chamar a polícia. Eles não iriam fazer nada. Disse a ela que talvez fosse útil no caso de encontrarem a bicicleta e terem um registro do fato.

Ela disse que não, e que em quatro anos que tinha o hotel, sempre recebeu ciclistas da mesma forma e nunca tinha acontecido nada.

Ela me disse que não ficasse preocupado pois ela me pagaria outra bicicleta, já que a bicicleta estava sob sua responsabilidade. Ouvi aquilo com reservas, mas ela parecia estar falando sério. Estava com o boné da Scott e disse a ela que aquela bicicleta era dessa marca, mostrando o logo no boné.

Subimos para a recepção e ela pegou a lista telefonica. Ligou para duas bicicleta ias que conhecia, mas eles não tinham a Scott. Ela tentava lembrar o nome de uma grande bicicletaria para poder ligar para lá, mas não estava conseguindo. Depois de algumas tentativas conseguiu localizar e telefonar para lá. Quando ouvi ela dizer Sehr Gut entendi que eles tinham Scott.

Ela desligou e me disse para acompanhá-la. Iríamos de carro pois ficava a uns 2 Km de distância. Nos 5 minutos que levou para chegarmos na loja fiquei revendo a cena da garagem novamente e relembrando de outros pensamentos que havia tido naqueles momentos catatônicos.
Puxa, mas que dias estou enfrentando, com um nariz quebrado ontem e sem a bike hoje está ficando difícil chegar a Istambul.

Cancelar a viagem, não, de jeito nenhum, comprar uma bicicleta de touring e continuar a viagem? Ligar para o Brasil e avisar que agora a viagem tinha acabado? Nossa, muitas idéias passaram pela cabeça. Mas tudo girava na tentativa de encontrar uma solução para continuar a viagem.

Eu já não poderia pedalar nos próximos dias. Talvez esperar e ir de trem para Viena encontrar com o Renato que chegariam dia 29?

Chegamos à loja. Um verdadeiro supermercado de bicicletas. Eu já havia entrado numa loja dessa rede em outra viagem que fiz a Alemanha. Um vendedor se aproximou e nos cumprimentou. Pedi para ver os modelos de Scott Full Suspennsion que tinham na loja. Perguntei se tinham a Aspect FX-15 igual à minha. Mas a resposta foi negativa.

Tinha apenas modelos Genius, que são um nível acima da Aspect. Puxa, pensei comigo, não quero fazer a senhora gastar mais do que o necessário, mas não havia outras opções. Comecei com uma Scott e vou terminar a viagem com uma (outra) Scott. Entre os modelos disponíveis existam duas do tamanho Large e Extra Large, que serviriam para mim. Optei pelo modelo Extra Large que era de uma Genius 40, o modelo mais barato entre as duas disponíveis.

Falei para a gerente sobre o que estava acontecendo, explicando sobre os modelos disponíveis e ela disse que não tinha problema. Falou também para comprar o que precisasse a mais. Na hora lembrei do computador ou velocimetro e da garrafa d´água.

Disse a ela que iriam demorar para ajustar a bicicleta e que se ela quissesse poderia pagar e voltar ao hotel, pois eu voltaria pedalando. Justo hoje que não poderia pedalar, mas não havia o que fazer.

Ela pagou e foi embora. O vendedor pegou o meu peso para calibrar a suspeição da bicicleta e disse que demoraria meia hora para aprontá-la.

Tudo bem, fico me divertindo aqui na loja, vendo centenas de modelos diferentes. Entre uma prateleira e outra lembrei da bolsa do guidão. Não a tinham levado, mas o suporte dela foi-se embora. Sem ele não tinha como carregá-la.

Eles tinham alguns produtos da marca Topeak, mas não tinha esse suporte. Não dava para ficar sem a bolsa. A solução seria comprar outra bolsa com suporte próprio e eu veria o que fazer com a Topeak. Pensei em mandál-a para o Brasil, mas lembrei que ela poderia caber na mochila das costas .
Meia hora depois saia eu da loja com uma Scott novinha, melhor da que a que comecei a viagem, mas eu não estava feliz. Estava, como sempre, agradecido a Deus por estar ali pedalando e com uma bicicleta nova. O diabo diabo tira com uma mão e Deus dá com a outra. O percurso até o hotel tinha uns 2 Km. Cheguei a Munster Platz as 16:35 e fui colocar a bicicleta dentro do quarto, no t4erceiro andar do hotel sem elevador.

Deixei-a la e volte ao escritório de turismo onde um guia dever estar me esperando. Eram 16:45. A recepcionista disse que a guia havia esperado meia hora e havia ido embora. Expliquei-lhes então o que havia acontecido e as duas mulheres me olharam com cara de de dó.

O nariz deu uma leve sangrada, talvez pelo esforço da escada ou da pedalada, sei lá, ms foi muito pouquinho. Fiquei mais atento para evitar outros esforços.

A guia da manhã, Gabriela entrava no escritório e quando me viu, disse em espanhol sem sotaque, Jose Antonio a guia te esperou mas foi embora, era as 16 horas. Quando contei da bicicleta roubada ela não acredito. Que mala suerte disse ela.

Deixei um cartão e pedi que me enviassem material sobre a cidade para meu endereço em São Paulo.

Fui procurar um cibercafé para atualizar o blog. Voltei para o hotel e olhando para a bicicleta ali no quarto fiquei pensando um pouco sobre tudo. Eu sou muito mais sortudo do que azarado.


Por volta das dez da noite resolvi encaixar o bagageiro na nova bicicleta. Soltei o banco e canote da bicicleta antiga do bagageiro e ao tentar encaixar o novo canote do sellim no bagageiro ele não se encaixava. Tentei uma duas vezes e ai correu um frio pela espinha. O diametro dos canotes, que é o tubo que segura o selim, era diferente. A nova bicicleta tinha um diametro de uns dois milimietros a mais do que o outro.

Ai, mais essa não. Estava com oum outro problema para ser resolvido. Esse tipo de bagageiro que se encaixa no canote não é muito comum. O jeito seria voltar à loja na manhã seguinte para tentar achar um adapatador no qual eu pudesse usar o canote mais fino, ou outra solução.

Adianto para vocês que a noite foi muito mal dormida. Eu me sentia o Jack Bauer do Seriado 24 horas. A cada hora que passava tinha que lidar com uma nova crise.


Ciclovia ao lado do Danubio


Edificios de Ulm

Hotel Balança mas não cai