A noite anterior não foi lá das melhores, Acordei umas três vezes, na última com o joelho doendo. Tomei um anti-inflamatório e voltei a dormir. O despertador tocou inaplacavelmente as 6:30 e o segundo as 6:50. O café da da manhã começaria a ser servido as 7 da manhã. Eu planejava estar pedalando as 7:30 pois sabia que tinha mais de 100 KM para percorrer seguindo o guia do Danubio.
Foi difícil sair da cama, acabei descendo para o café as 7:30 e as 8:15 estava na rua. De Sigmaringen eu partiria para alcançar Ulm no final da tarde. Não sei se pela noite mal dormida, ou por estar batendo saudades, eu não conseguia pegar ritmo de pedal. Fui um pouco mais lento do que o costume. O cenário era totalmente diferente do dia anterior, planícies com plantações de trigo, milho e feno pareciam disputar os planos que me rodeavam. Hoje, o Sol que não aparecera no dia anterior, veio com total força.. Reaplicava o protetor solar a cada duas horas. Com 47 Km de percurso cheguei a vila de Riedlingen. Dei uma volta na parte antiga da cidade, onde vi várias esculturas de cegonha estilizadas espalhadas pela cidade. Parei para tomar uma super taça de sorvete de chocolate por 4 Euros.
Riedlingen
cegonha
Pedal na estrada novamente, próximo ao Km 70 analisei a rota e resolvi sair da ciclovia para evitar de passar pela cidade de Ehinger. Iria mais pela direita e cortaria uns 5 Km. Acabei me dando não muito bem, pois meu desvio ficou maior do que eu imaginava, mas mesmo sim me colocaria na direção da vila de Griesingen, depois de Ehingen e de volta à ciclovia.
caminho
Mesmo sem a motivação dos dias anteriores, pedalava mais forte do que na parte da manhã. O mapa não mostrava a topografia, que acabava tornando Griesengen uma pequena vila no alto de uma colina. Não muito ingríme, mas o suficiente para requerer algumas pedaladas mais fortes para atingir seu ponto mais alto.
Não havia viva alma na vila, pelo menos nas ruas. Quando começou a decida que me levaria de volta à ciclovia resolvi dar uma olhada no mapa.
Bem, aí a viagem mudou. Sozinho, numa vila deserta, acabei cometendo um descuido de dois segundos que me custaram caro.
Enquanto batia os olhos no mapa, percebi a traseira de um carro abaixo do mapa. Acho que não demorou 1 segundo, mas pude ouvir um grande estrondo, o porta-malas debaixo de mim e a minha cabeça batendo contra o vidro traseiro do carro. Escutei um barulho de algo quebrando, como um placa de isopor que é partida. Pensei, nossa o vidro esta se quebrando. Ao bater no para-choque do carro a Scottinha virou para a esquerda, pois foi a minha tentativa de frear e desviar. Quando fui jogado para trás no movimento de ação e reação da física olhei para o vidro do carro e ele estava inteiro. Eu ainda segurava o mapa-guia na minha mão quando percebi algumas gotas de sangue caindo sobre ele e sobre a bolsa de guidão.
Quem tinha quebrado era eu, não o vidro. O nariz começou a sangrar, gotas grandes caiam no chão. Sai de cima da bicicleta e peguei a viseira do capacete que tinha caído. A bicicleta estava de pé, debaixo de mim. Não sei como voltei a posição vertical na hora que voltei de cima do carro. Sai de cima dela e comecei a empurrá-la para encostá-la na calçada. Nesse momento escutei a voz de uma mulher dizendo Herr, Alles Gute? Algo do tipo Senhor, tudo bem?.
Com o nariz jorrando sangue disse que sim. Ela indicou a entrada da garagem de sua casa para colocar a bicicleta. Levei a bicicleta até a entrada da garagem, mas pedi para que ela empurrasse a bicicleta, pois quando parei, pingava muito sangue e eu não queria sujar sua garagem. Era uma senhora de uns 50 anos, que não falava muito inglês. Como meu alemão não é dos melhores, mas o suficiente para dizer a ela que tinha quebrado o nariz.
Ela me apontou a porta da casa enquanto sua filha trazia uma toalha para que eu tentasse limpar o rosto. Entrei na sua casa e pedi gelo. Ela foi buscar, tinha muito pouco, mas o suficiente para encher um pequeno saco plástico.
Eu não sentia dores, apesar de saber que o nariz estava quebrado. Aproveitei para ver se tinha alguma escoriação no rosto e em outras partes do corpo, mas parecia tudo perfeito. A filha de 16 ou 17 anos falava inglês e traduzindo a mãe, me disse se não queria que chamassem um médico.
Agradeci, disse que tinha um seguro saúde e que iria chamá-los. Griesingen não tinha hospital. Do jeito que eu estava não daria para chegar pedalando até Ulm, faltava uns 25 Km. Continuei com o gelo no nariz por alguns minutos até que parou o sangramento. Ela havia ligado para sua irmã que falava bem inglês e que insistia para que chamassem um médico.
Agradeci novamente. Perguntei se tinha trem da vila para Ulm. Disseram que não, apenas ônibus, mais no fim da tarde. O acidente aconteceu por volta das 14:45. Disseram que de Ehingen havia, mas que ficava a uns 6 Km.
Disse a elas que iria verificar como estava a bicicleta, e se ela estivesse em condições eu pedalaria até Ehingen e tomaria um trem para Ulm.
Imaginei que a roda dianteira tivesse entortado, alguns raios quebrados. Eu devo ter batido, mesmo com a freada de segundo que dei, a uns 30 ou 35 Km/h. Levantei a parte dianteira da bike e girei a roda, perfeita ela estava. Pressionei e soltei o freio dianteiro, tudo em perfeito estado.
Novamente agradeci a ajuda e me despedi. Havia uns 500 m de descida até o final da vila quando eu encontrei uma rodovia vicinal e a ciclovia que se tomada á direita me levaria para Ullm. Só que agora eu tinha que tomá-la para à esquerda. Pedalei nas marchas mais leves para não forçar os batimentos cardíacos tentando evitar o sangramento do nariz. Uma ou outra gota caiam. Dois quilômetros depois cheguei a vila de Nasgenstadt e não acreditei no que vi, uma subida ingreme de pelo menos 1 Km.
Caramba, mais essa, comecei a subida na marcha mais leve, mas depois de uns 300 metros algumas gotas de sangue começaram a cair com mais frequência Desci da Scottinha e comecei a empurrá-la.
Depois dessa malvada subida, um descida de 500 metros me levou a parte baixa da cidade. Num semáforo pedi informações a um motorista sobre a Banhof, estalão de trem, e ele me disse para virar a direita e ir sempre em frente. Uns 8 quateirões depois estava em frente à estação. Acorrentei a bicicleta e perguntei quando partia o próximo trem para Ulm que permitia levar bicicleta. Perguntei também quanto custaria para levar a bicicleta. Na Alemanha, alguns trajetos que permitem bicicleta, cobram um adicional.
A senhora me disse que o próximo trem partiria em 20 minutos e que não era cobrado nada pela bicicleta. Peguntei sobre o procedimento para carregar a bicicleta e ela me disse que deveria procurar uma porta que tivesse um desenho de bicicleta ao lado. Bastava colocar a bicicleta dentro do trem por aquela porta.
Paguei 5,15 Euros pelo bilhete e segui as instruções sobre como chegar a plataforma 3. Embarquei, prendi a Scottinha e sentei próximo a ela. Tirei um rolo de papel higienico da mochila, cuja finalidade era obviamente para outras situações de emergência e fiz um pequeno rolete de papel. Esse pequeno tubo eu coloqeui dentro da narina direita, a mais afetada e pela qual sangrava o nariz.
Fiquei pensando no acidente, como fui burro. Me acidentar no lugar mais improvável, e com um único responsável, eu mesmo e minha falta de concentração. Cheguei em Ullm as 4:30 e liguei o GPS do Moto Q para ir ao hotel. Lá liguei para a World Plus, empresa pela qual faço meus seguros de viagem. Eram 17:20. Expliquei o que acontecera, passei os dados do lugar onde estava e o número do meu celular da TIM dee São Paulo e que estou usando em roamming. Em meia hora me ligaram do Brasil dizendo que já haviam contatado alguém na Alemanha e que essa pessoa me ligaria em seguida, Uns 10 minutos depois ligou uma moça de nome Sabine, me dizendo que estava passando um fax para o hotel onde eu estava com uma autorização de débito para as despesas no hospital.
O fax chegou em dez minutos com a indicação do Hospital Universitário de Ulm. A gerente do hotel chamou um taxi e quando esse chegou mostrei o endereço do hospital. Falando em alemão disse ao motorista que tinha quebrado o nariz. Ele me disse que então não era naquele hospital era em outra unidade.
Eu disse que era o endereço que me passaram. Por sorte a Sabine ligou novamente e eu passei o telefone para o motorista. Ela me explicou então que o motorista estava certo, pedindo para que fossemos para o novo local.
Chegando ao hospital, ele me deu orientações sobre onde ir, mas quando eu estava descendo, ele disse para eu voltar, pois leu que aquele local ficava abeto até as 18h e já eram quase 19. Deu a ré com o carro e me deixo uns 100 m do local onde me apontou onde eu devia ir.
Na entrada tinham duas moças conversando com uma atadura no nariz. Bem, eu estou no lugar certo, pensei. Entrei no hospital e fui ao setor de emergência. Não havia viva alma. Meu alemão é básico e não inclui muitos termos médicos. Andei pelo corredor encontrei uma enfermeira. Disse que tinha quebrado o nariz e ela me disse para ir até o final do corredor e apertar um botão de interfone. Foi o que fiz.
Quando atenderam disse sobre o meu nariz e me responderam para esperar na sala á minha frente. Em 5 minutos um médico chegou e pediu para que eu preenchesse uma ficha. Após outros 5 minutos a porta se abriu e fui convidado a entrar num coinsultório. O médico de seus 27 anos devia ser residente ou algo parecido, mas gostei dele. Ele me fez perguntas sobre o acidente, se eu havia perdido a consciencia, se tinha visão duplas, e apalpando diferentes partes do meu rosto verificou que seu não estava com dentes ou maxiliar quebrados.
Me explicou dos procedimentos que seriam tomados. Ele precisaria esperar até o dia seguinte para ver se não ocorreria um hematoma do septo. Caso isso acontecesse seria necessário fazer uma drenagem. Em caso negativo iriam colocar uma tala para manter o nariz na posição. Me passou um remédio para pingar no nariz de 4 em 4 horas e preencheu uma ficha com meus dados no computador.
Nesse momento a Sabine ligou novamente para saber se eu havia sido atendido e mais uma vez passei o telefone para o médico para que ele lhe explicasse os procedimentos. Isso feito, voltei para o hotel, agradecendo ao Roth, esse era o nome do médico pela atenção que me dispensara.
Não havia taxis na porta do hotel. Vi que na esquina tinha uma rua com mais movimento. Fui até lá e vi um ponto de ônibus. Perguntei se passava algum onibus que me deixasse próximo a Munster Platz onde eu estava. Uma senhora me deu indicações sobre o ponto onde eu deveria descer.
Liguei para o Brasil para avisar o que tinha acontecido e pegar o telefone do meu otorrino, o famoso Dr João Armando Padovani. Consegui falar com ele lhe enviei pelo celular, em seu email, uma foto com a cara do sujeito de nariz quebrado. Ele me confirmou o procedimento do médico e disse que estaria me ligando no dia seguinte para ver como foi o segundo exame. Me passou também algumas recomendações, como a de evitar sol, passar protetor solar para evitar manchas no nariz. Fiquei pensando, como a tecnologia pode nos ajudar. Quando uma situação dessas poderia ser imaginada há dez ou quinze anos.
Fico feliz de estar escrevendo essas linhas no meu MOBO da Positivo, que descobri resistir a impactos de até 30, Km pois ele estava na mochilha em minhas costas quando bati no carro.
Agradeço a Deus, acima de tudo, de ter evitado que algo mais grave tenha acontecido.
Tenho certeza de que em dois ou três dias estarei continuando a viagem rumo a Istambul.
Quem me ve pela primeira vez normalmente diz que sou irmao gemeo do Richard Gere. Olha so o estrago da batida.
Como no meu planejamento de viagem eu iria ficar duas noites em Ulm, parece que não perderei muitos dias e conseguirei estar em Viena dia 3 para encontrar meus amigos Renato e Ferreira que vão se juntar a mim até Sofia na Bulgaria.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Dia 11 Sigmaringuen - Ulm provisorio
Esse relato e provisorio e sera substituido pelo definitivo amanha.
Cheguei a Ulm no final da tarde. Meu hotel fica na Munster Platz, em frente a catedral. A foto foi feita da janela do quarto com o Moto Q.
Hoje tive alguns contratempos que serâo relatados com detalhes na proxima postagem.
A Alemanha esta uma loucura. Ganhou de 3x2 da turquia e vai disputar a final da Euro Copa. E meia noite e a cidade e um buzinaço só.
Cheguei a Ulm no final da tarde. Meu hotel fica na Munster Platz, em frente a catedral. A foto foi feita da janela do quarto com o Moto Q.
Hoje tive alguns contratempos que serâo relatados com detalhes na proxima postagem.
A Alemanha esta uma loucura. Ganhou de 3x2 da turquia e vai disputar a final da Euro Copa. E meia noite e a cidade e um buzinaço só.
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