quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dia 30 Pirot - Sofia (Bulgária)

Nosso hotel era a melhor opção que tinhámos para passar a noite anterior. Mas foi um dos piores em termos de acomadação. Tudo parecia bem mas quase nada funcionava. Ficamos com uma sensação de insegurança grande naquele hotel. Só para dar uma idéia, o Ferreira colocou o despertador dele as 2 da manhã para olhar as bikes na garagem

Acordei as 6:30 e as sete estava pronto para o café. O Renato acaba de acordar. Dei uma olhada no tempo e estava fechado, com o chão molhado. O Ferreira disse que havia chvido a noite inteira. Eu não ouvi nada.

Na hora de sair ficamos na indecisão de colocar as roupas de chuva ou esperar. Optamos por esperar e isso acabou sendo a escolha certa. Alguns pingos cairam, mas não chegaram a incomodar. Logo nas primeiras pedaladas sentimos que o vento estava vindo pelas nossas costas. A pedalada começou bem rápida e se manteve assim pelo dia inteiro.

Após 40 minutos já tinhamos feito 17 Km e paramos no último posto de gasolina para tomar um reforço do café da manhã, que também havia sido muito fraco, dessa vez sem o ovo podre dos dois dias anteriores.

Mais cinco quilometros e estávamos na fronteira com a Bulgária. Apresentamos os passaportes no lado sérvio, que foram imediatamente carimbados por uma guarda. Nos quinhentos metros que separam as duas imigrações, ou seja na terra de ningúem, pois voce saiu de uma país e não entrou no outro, tiramos uma foto junto a placa de despedida da Sérvia.



Alguns metros mais adiantes passamos por duas cancelas. Pensei que estava passando por cima de uma mangueira furada, pois comecei a sentir um borrifo nas pernas, mais alguns metros o Renato emparelhou e disse, Acho que fomos detetizados. Eu disse que também achava, pois tinha um cheiro parecido com o de criolina no ar.

Comentámos que se nossa pele não descolasse até o final do dia estava tudo bem. Só que alguns quilometros mais adiante, jogamos água nas pernas para tirar a cisma.

Na fronteira bulgára caribaram o passaporte sem falar nada conosco. Num terceiro posto, nos pararam e pediram para preencher uma pesquisa que girava em torno da corrupção dos agentes da imigracção.


Cem metros adiante uma placa apontava as distâncias e apareceu, pela primeira vez Istambul. Nossa, eu já nem pensava em Istambul nos últimos dias, Meu destino era Sofia o ponto final da viagem do Renato e Ferreira.. 615 Km me separavam do meu objetivo, agora devidamente realinhando. Eu já tinha pedalado mais de 2.500Km.



Estavámos subindo, desde que saimos de Pirot. Dos 230m de altitude já estávamos em 450. Após a fonteira as subidas se acentuaram, chegando a 3 e 4% de gradiente, mas com aquele santo vento pelas costas, estavámos indo muito bem. Alcançamos os 700 m de altitude e a partir daí, o percurso foi descendente.

Os próximos quilometros foram nosso parque de diversão. Não havia descidas íngremes, mas o vento estava tão forte que pudemos pedalar em velocidades de até 50 Km/h. Ficamos muitos e muitos quilômetros pedalando a mais de 30 ou 40 Km/h.

A rodovia que era pista simples se tornou uma pista simples mas com duas faixas de rolagem de cada lado.

Isso nos dava mais segurança pois os carros e caminhões passavam na outra faixa. Faltavam uns 30 Km para Sofia, O Ferreira estava a uns 150m na minha frente, O Renato devia estar uns 20 metros atrás de mim. A velocidade deve estar em torno de 35 Km/h. Nesse ponto a rodovia era plana. Na minha frente uma placa indicava o nome de alguma cidade para o lado direito e uns 100 metros adiantes vi uma estrada, á minha direita que terminava na estrada na qual eu estava.

Vi uma perua Scenic azul parada esperando sua vez para entrar, ou seja, estava me esperando passar. Fiquei atento a esse carro. A estrada secundária não fazia exatamente um T com a estrada principal, se encontrava com ela com um ângulo de 30 graus.

Quando eu estava a uns 20 metros de cruzar com a Scenic vejo uma perua Mercedes ML preta que vinha no sentido contrário começar a vir na minha direção. Ela ia entrar nessa estrada secundária. Ela não parou, não deu seta, nada, simplesmente entrou do jeito e na velocidade que vinha.

Tudo não levou mais do que meio segundo. Eu apertei firme os freios hidráulicos da bicicleta e comecei a desviar levemente para a esquerda. Eu pensava, eu tenho que sair da frente desse carro. Se ele me pegar de frente estou morto, se eu conseguir bater na lateral dele, em angulo, eu tenho uma chance de sair vivo. Os alforges desequilibram a bicicleta numa freada, mas consegui mantê-la alinhada e continuar o meu desvio.

Consegui livrar a frente do carro, inclinei um pouco mais a bicicleta para a esquerda. Naquele instante achei que daria para desviar. Eu quase emparelhado, com ele indo pela minha direita. Pensei acho que passo mas o alforge vai bater. Se isso acontecer eu tenho que torcer para não ter carro na minha esquerda,

Eu estava aliviando os freios para não desequilibrar demais a bicicleta quando vi a a quina do pára choque traseiro passar por mim, Não dava para passar uma folha de papel entre o pára choque e o alforge. Inclinei levemente a bicicleta para a direita para me alinhar com a estrada.

Olhei para o carro à medida que ele se afastava. Ali nada mais havia o que ser feito. Mais uma vez agradeço a Deus por ter passado por uma situação de risco tão grave como essa sem ter me acontecido nada.

Pensei comigo se o Renato tinha visto a cena. Em alguns segundos ele estava ao meu lado dizendo que não tinha sido a nossa vez. Me contou que estava atrás de mim e olhando para baixo quando escutou o barulho dos meus freios. Instintivamente ele freou e se desviou de mim. Ele ainda disse que o carro tinha diminuido a velocidade mas que continuou em seguida. Ele por sua vez teve chance de xingar o motorista irresponsável.

Uns dois quilômetros depois encontramos o Ferreira que nem desconfiava do que haviámos passado. Paramos para comer umas bolachas e tomar água, Ai comentamos com ele do acontecido. Faltavam 23 Km para Sofia.



A estrada virou uma avenida da cidade Andamos por ela uns 5 Km e paramos para almoçar. O Ferreira ligou para uma pessoa da empresa que trabalham, na filial local e pediu dicas de hotel. Ela pediu para que ligassemos em uma hora. Nesse meio tempo liguei o GPS e usando o celular consegui pesquisar na internet alguns hoteis de Sofia. Fomos atrás de dois deles e acabamos parando num hotel no centro da cidade. Enquanto perguntava para a recepcionas sobre disponibilidade de vaga, dessa vez em frances, pois ninguém falava outra lingua, o Ferreira ligou para sua colega e ela disse que tinha reservado justamente aquele hotel.

Muita coincidência. Descansamos por umas duas horas e fomos jantar. Amanha encontraremos com a Milena as dez da manhã.

Bem, mais um dia da viagem se passou. Sofia é o destino final dos meninos que no dia 18 voltam para o Brasil. Eu ficarei aqui esses dias, e continuo dia 18 em direção a Istambul. Na Bulgária devo dormir em mais duas cidades antes de entrar na Turquia.