catedral de Sens
Expresso do oriente dia 01 – 15-06-08
A noite anterior não foi das melhores. Ainda afetado pelo fuso de 5 horas a mais do que no Brasil, e talvez com alguma ansiedade embutida, fui dormir quase duas da manhã. Acordei as 6 horas e o segundo despertador me tirou da cama as 6:20.
Tomei banho, fiz um check list geral e fui tomar café, já vestido de ciclista. A senhora que servia café me perguntou se era eu que ia pedalar até Istambul. As arrumadeiras já tinha espalhado a notícia no hotel. Depois de me chamar de louco, me desejou boa sorte e me deu duas garrafinhas de água.
De acordo com o mapa que imprimi no site da Michelin, tinha um trajeto de 112 Km, Sair de Paris levou meia hora, uns 8 Km. Até o quilometro 35 praticamente transitei por avenidas e pequenas cidades, mas sem nada rural entre elas.
A topografia do percurso foi essencialmente plana, mas repleta de falsos planos, aquela leve subida que você sente no pedal mas não no olhar.
Esse primeiro dia de pedalada eu sabia que não seria fácil, mas confesso que não imaginei o tanto que ele foi difícil.
Nas duas semanas que antecederam a viagem e praticamente não treinei spinning. A ultima vez que pedalei 100 Km foi no Tibet, um ano atrás. Na bike, curriculo de pedalada não conta nada, cada dia é um dia.
Lá pelo Km 60 comecei a sentir que a situação ia ficar complicada. Joelhos e anterior de coxas já davam sinais claros que estavam arriando. Não descuidei da hidratação e de comer barras energéticas, mas o motorzinho já não estava 100%.
Próximo ao Km 70 aconteceu outro fator que, literalmente, foi um banho de água fria. Uma chiva forte despencou. Consegui me esconder numa pequena entrada de uma floresta e vestir a jaqueta e calça de chuva.
Naquelas alturas, continuar pedalando era um duplo desafio, físico e psicológico. Por 20 Km a chuva não deu tregua. Resolvi parar e tomar um chocolate quente num fast food na cidade de Montereau. Aproveitei para descansar uma meia hora. Nesse meio tempo a chuva parou.
Faltavam ainda 40 Km para Sens, a cidade destino do dia. Nesse último trecho minha condição física se degradava a cada quilometro pedalado. No Km 95, já a beira da exaustão, vi um banco na beira da estrada, na entrada de uma vila. Parei a bike e deitei para esticar as pernas. Coloquei o despertador do celular para daí a dez minutos. Estava tão cansado que achei que poderia adormecer ali e só acordar de noite.
Quinze minutos depois voltei ao pedal. A rota ficou bem plana, mas o vento contra não ajudava. A cada 5 Km parava 2 minutos. Não tinha forças nem para levantar a perna e sair da bike. Mas essa técnica me ajudava. Os dois quilômetros seguintes eram mais amenos.
Confesso que tirei poucas fotos, embora tenha passado por lindas vilas, a chuva e o tempo que havia gasto me cobravam mais pedaladas.
Sai do Hotel em Paris as 8:10 da manhã. Imaginei que chegaria por volta das 17:00. Contudo, nessa hora ainda faltavam 35 Km para Sens. Em condições normais e com a topografia que tinha à frente eu levaria um pouco menos de duas horas. Só que no meu estado, e com as muitas paradas, acabei chegando as 20:00. Por sorte o dia vai até as 9 da noite.
Nos últimos 15 Km, passei por uma experiência que ainda não tinha tido. Alternei várias vezes entre um estado de exaustão para euforia. Muito louco. Acho que algumas gotas de energia entravam no sangue e eu parecia querer chegar rápido como um raio. Daí a dois Km voltava o cansaço insuportável.
Agora são 11:47 da noite por aqui. Estou terminando essas linhas e vou atualizar o blog com esse texto e algumas fotos. Ah, fui jantar as 9:30. Pedi uma salada mixta, um bife com batatas e de sobremesa tracei a Charlotte, de chocolate é claro.
Alguns dados de hoje:
Paris – Sens : 122Km
Calorias consumidas :8050
Batimento cardíaco médio/máximo 156/182
Tempo de pedalada: 11:50
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